O texto de hoje não será sobre dicas, sobre viver no exterior, os contratempos de falar outro idioma, nada disso.
Três semanas atrás eu cancelei a minha conta do Google AdSense português e transferi ela para o AdSense Brasil. Para quem não sabe, o AdSense é o sistema do Google que permite donos de sites, blogs ou canais do Youtube exibirem anúncios comerciais e ganharem dinheiro com isso. O pagamento destes anúncios é feito diretamente pelo Google na conta bancária dos donos de sites, blogs ou canais do Youtube.
Bom, eu sou um desses donos de sites, blogs e canais do Youtube eheheh.
Para eu começar a receber o dinheiro aqui, tive então que indicar a minha conta bancária brasileira.
Quem já está acostumado com o sistema bancário brasileiro, sabe que ao momento de abrir uma conta, as únicas informações que você recebe são o número da agência e o número da conta, seja ela conta corrente ou conta poupança. E é isso. Quando muito, você recebe um cartão temporário para movimentar a conta até chegar o cartão definitivo pelo correio.
Em Portugal, assim que abrimos nossa conta no BPI, além dos cartões, recebemos as cópias dos contratos, um manual com instruções dos canais digitais do BPI, uma aula sobre o Multibanco (sistema bancário integrado de Portugal, que já falamos dele em outra oportunidade e você pode ler novamente clicando aqui) e, quando perguntamos o dados da agência e conta, fomos surpreendidos por um impresso com os códigos Swift/BIC e os números do NIB/IBAN.
O quê? Você também não entendeu o que são esses montes de letras (Swift, BIC, NIB e IBAN)? Tudo bem, não fique triste, nós também não havíamos entendido.
O gerente do BPI então nos explicou que o Swift ou BIC, é o código internacional do BPI, ou seja, entre todos os bancos do mundo, o BPI tem a identificação dele (BPIPPTPL), o NIB é o número da conta e o IBAN é o número internacional da conta.
Agora que foi explicado, retornando ao texto e a transferência da minha conta do AdSense… aqui no Brasil eu tenho conta no Itaú, o banco “digitau”, como eles mesmos se identificam.
Entrei no aplicativo do home banking do Itaú para consultar quais seriam os dados Swift/BIC e o meu IBAN, ou seja, qual o número internacional da minha conta bancária brasileira.
O IBAN eu achei super fácil, bastou eu ir até o menu transferências, que logo apareceu a opção consultar seu IBAN.
Ok, mas e o Swift?
Aqui é que começam os problemas. Para um banco que se diz “digitau”, o esperado era que eles utilizassem da lógica para dispor as informações, afinal a lógica é a alma de qualquer coisa digital, quer dizer, “digitau”. Mas não é com o Itaú.
Resumindo, se eu quero saber qual o meu IBAN, deveria aparecer na mesma tela o Swift, afinal, um não serve de nada sem o outro. Só que não aparece.

Tela do home banking do BPI. Todos os dados aparecem como primeira opção do menu. Isso sim é digital, não o “digitau”.
Para descobrir qual era o meu Swift, resolvi ir até a minha agência, pois achei que essa informação poderia aparecer no caixa eletrônico.
Chegando na agência, uma assistente veio logo perguntar se eu precisava de ajuda. Falei para ela que eu precisava receber alguns pagamentos internacionais e que, para isso, eu precisava apenas saber qual o Swift do Itaú, pois o IBAN eu já tinha.
A assistente me olhou com cara de assustada e disse “peço que o senhor se dirija ao caixa, pois estão mais acostumados com esse tipo de transação, pois eu desconheço essa informação”.
Ok, até ai tudo bem. Fui para a fila e aguardei ser chamado. Quando chegou a minha vez, fui ao caixa e repeti a informação que eu já havia dado a assistente. Mais uma vez cara de susto e a explicação da operadora “o senhor me desculpa. Trabalho aqui no Itaú há mais de 10 anos, jamais passei pela situação de uma transação internacional. Quem sabe o senhor vai até o gerente, ele talvez possa lhe ajudar. Mas aproveitando, dá dinheiro trabalhar com internet?”.
Respondi a ela que sim, mas não muito, caso contrário, eu não precisaria estar na fila do banco, teria mandado alguém.
Saindo do caixa, fui até o gerente. Depois de aguardar vinte minutos pela minha vez, visto o Itaú não dar senhas, o atendimento é por ordem de chegada e por organização própria das pessoas, que ficam se olhando e tentando adivinhar quem será o próximo, sou chamado pelo gerente.
Cumprimento ele e explico mais uma vez a situação. Se não fosse a cara de susto do gerente, eu poderia jurar que estava falando outro idioma. A reação dele foi “eu não sei lhe informar sobre roswit…(gaguejou algo como rosbife, em vez de swift) e também não sei dizer nada sobre o IBAMA”.
Respiro e explico mais uma vez, quase soletrando o Swift e corrigindo ele que era IBAN, não IBAMA.
Ele digita algumas coisas no computador, me olha, digita mais algumas, e me responde “eu não posso lhe dar esse tipo de informação, é sigilosa. Peço que o senhor ligue para a nossa central de atendimento, no 4004…”.
Simplesmente não pude acreditar nisso. Em vez de insistir mais, desisto, agradeço a atenção e saio da agência. No caminho para o trabalho eu ligo para a central de atendimento do Itaú. Depois de uma sequência de menus e digitação de números, finalmente sou atendido. Explico mais uma vez, quase já sem paciência o que eu quero, a atendente pede para eu esperar e… cai a ligação.
A noite, em casa, decido pesquisar no site do Banco Central e descubro alguns Swifts do Itaú que fazem referência a São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, etc. Na dúvida, não quero arriscar informar um Swift errado e ficar com o dinheiro preso em algum limbo internacional, eu decido entrar no site do BPI e tentar a transferência dando apenas o endereço da minha agência e IBAN.
E qual não foi a minha surpresa ao acessar o home banking do BPI? Eles disponibilizam um simples site de consulta de todos os Swifts do mundo, o www.swift.com.

Tela de transferência internacional do home banking do BPI, mostrando a indicação do site www.swift.com.
Entro neste site e descubro, em menos de 5 minutos, a informação que os funcionários do Itaú acreditam ser algum tipo de dado alienígena ou ultra-secreto.
Não quero julgar os funcionários do Itaú ou o banco, longe disto, essa experiência me serviu apenas para uma conclusão de algo que eu já havia percebido e lido em diversas outras oportunidades: o Brasil é uma ilha.
Como pode uma população viver tão a parte do resto do mundo? Pessoas que trabalham há mais de 10 anos com o sistema bancário brasileiro jamais terem ouvido falar de Swift ou IBAN. E este é apenas 1 exemplo do que já abordei no meu texto anterior (clique aqui para ler), quando me referi ao tamanho do país, onde podemos ter grande parte da população com uma vida inteira sem jamais ter tido contado com algum estrangeiro.
Como podemos querer falar em melhorar a cultura ou o nosso desenvolvimento se simplesmente a população não tem a mínima troca de experiência com outros povos?
Eu sei, estou sendo muito ufanista em querer algo assim. Mas encerro o texto repetindo o que já disse algumas vezes: se você tiver a oportunidade de sair, um dia que seja do país, aproveite tudo o que puder. Quando voltar, compartilhe as suas experiências.
O mundo é muito pequeno para vivermos isolados da maneira em que vivemos.
Um grande abraço a todos.

Mais tarde, revirando o home banking do Itaú, eu descubro onde está o swift. Ele fica escondido no campo de busca, na opção “exibir todos os resultado para swift” e, depois disso, no menu “qual o código swift do Itaú”. É ou não uma novela para mostrar uma simples informação?

Para você que ficou curioso e aguardou até aqui para saber, o Swift do Itaú é ITAUBRSP. Espero que possa ser útil para você.