Uma das coisas que mais me chama atenção, não só aqui nos meus textos, mas também pessoalmente, é quando eu falo do tamanho de algumas regiões do planeta.
Por exemplo, a reação das pessoas quando eu digo que é mais rápido atravessar o Oceano Atlântico em direção a Europa do que cruzar o Brasil de norte a sul. São em torno de 6 horas de voo para atravessar de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, a Natal, Rio Grande do Norte. Enquanto de Natal, Brasil, até Lisboa, Portugal, é em torno de 4 horas. E isso voando sobre o noroeste da África, que é grande pra caramba.
Lembro quando eu estava lá no restaurante em Coimbra e falava para os colegas sobre o Rio Grande do Sul e como era transmitir um programa de televisão para 12 milhões de pessoas (população do Rio Grande do Sul) e eles, principalmente os Portugueses, falavam: “não pode ser, essa é a população de Portugal!”.
Ou a minha cara quando eu ouvia um colega português dizer “Lisboa é distante, não se pode ir sempre”. Dai era a minha vez de fazer cara de espanto e falar para ele “não são nem duas horas com uma viatura (carro) ou quarenta e poucos minutos de Alfa Pendular”.
Resumindo, não era nem o tempo que nós, gaúchos de Porto Alegre, levamos para chegar nas praias do nosso litoral. São, pelo menos, duas horas. Isso quando não tem congestionamento na estrada.
Para vocês terem um pouco mais de noção nesta questão dos tamanhos regionais, outros três exemplos:
Exemplo 1: Certa vez assistindo ao telejornal noturno da SIC uma das reportagens informava a aquisição de 46 ambulâncias (não lembro o número exato) para o serviço de atendimento de urgência. A repórter fechava o vídeo informando que Portugal, agora, teria 562 ambulâncias para atender a todo o país. Olhei para minha esposa e ela também estava sorrindo. 562 ambulâncias devem ser apenas a frota disponível para atender o Rio Grande do Sul, sei lá quantas estão disponíveis para atender ao Brasil inteiro…claro, sem contar o fato de que, mesmo tendo muito mais ambulâncias, não conseguimos atender toda a população. Mas isso é assunto para outro texto.
Exemplo 2: Outra vez, escutando televisão enquanto organizávamos as coisas da Antônia para passearmos, um comercial de um filme português, “O Pátio das Cantigas”, informava que, em duas semanas de exibição, mais de 3000 pessoas já haviam assistido e convidada a todos para verem esse sucesso de bilheterias. Achei agora a reportagem informando que o filme bateu o recorde de espectadores, com mais de 400 mil pessoas assistindo ao filme. Ou seja, 3000 pessoas é o mínimo esperado para o primeiro dia de exibição de qualquer filme no Brasil, mesmo ele sendo o pior filme do mundo.
E o exemplo 3: Certa vez assistindo ao jornal do meio-dia, eles estavam cobrindo ao vivo uma manifestação de pessoas que foram lesadas pelo fechamento de um banco. O link informava a incrível soma de 50 pessoas protestando e o trabalho da polícia para controlar os manifestantes. No Brasil, 50 pessoas não é nem considerado manifestação, é tumulto e logo dispersado pela policia. Aqui tem um vídeo bem divertido do Porta dos Fundos mostrando como é o trabalho policial nestes casos.
“Mas Fabiano, não acredito, você está querendo desmerecer Portugal ou outros países com esse tipo de comparação?”
Não, muito pelo contrário, escrevi isso até agora para dar uma noção aos brasileiros de como nos enganamos com o nosso tamanho e pensamos pequeno, nos tornando cada vez mais uma “ilha” cultural.
Pense no mapa mundial. Você acha mesmo que os países possuem as proporções que estão ali desenhadas?
Para facilitar essa comparação, me lembrei do site The True Size (O Tamanho Real), que permite você, com um simples arrastar do mouse (ou rato), sobrepor o mapa de qualquer país no mundo e comparar ele com o tamanho real de outro.
Por exemplo, você sabia que cabem dois Portugais dentro do Rio Grande do Sul?

Mapa de Portugal, na cor laranja, mostrando que caberia dentro do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
Ou que o Brasil tem praticamente o mesmo tamanho territorial dos Estados Unidos?

Mapa do Brasil, em vermelho, sobrepondo o mapa dos Estados Unidos.
Ou quem sabe a Europa inteira dentro do Brasil?

Mapa do Brasil, em vermelho, sobrepondo todo o território europeu.
Ou que o Brasil tem quase o mesmo tamanho territorial da China?

Mapa do Brasil, em amarelo, sendo sobreposto pelo mapa da China, em azul.
Ou, então, que o Oriente Médio cabe inteiro dentro do Brasil e ainda sobra espaço?

Mapa do Brasil, em azul, sobrepondo toda a região do Oriente Médio.
Agora que desenhei os exemplos, é que vou me explicar em relação as comparações que fiz no início do texto.
Termos a noção dos tamanhos dos países nos ajuda muito a entender os problemas e as soluções de cada população e ver que não existe um padrão a ser adotado para acabar com as dificuldades locais, principalmente as do Brasil.
Como comparar Brasil com Portugal? Olhem a diferença de tamanho. Se pensarmos que cabem dois Portugais dentro do Rio Grande do Sul, na área da saúde, por exemplo, o que adianta termos muito mais ambulâncias que eles, se em Portugal existem muito mais hospitais de referência, proporcionalmente, por cidade?
A população inteira do Rio Grande do Sul é obrigada a se deslocar até Porto Alegre para conseguir ter um atendimento de qualidade em um dos hospitais da cidade, que não são muitos, e que muitas vezes obrigam as pessoas a saírem daqui para procurarem atendimento em São Paulo, que é outro Estado e mais longe ainda do local onde elas moram.
Em Portugal, só de olharmos a geografia, já identificamos três cidades chaves: Lisboa, Coimbra e Porto. Ou seja, sul, centro e norte, são capazes de atenderem, por mais que os portugueses reclamem, a população com qualidade e sem a necessidade de grandes deslocamentos.
Comparar Brasil com os Estados Unidos? O que adianta termos o mesmo tamanho se a nossa é população um terço menor que a deles, a nossa legislação é a mesma para todos os Estados, o modelo de arrecadação fiscal é centralizado e a distribuição de renda desigual?
Queremos que o Brasil tenha o mesmo padrão cultural da Europa, como fazer isso? Você consegue dizer que um português tem a mesma cultura que um espanhol, mesmo sendo vizinhos? Ou que um Alemão tem a mesma cultura que um britânico? Que um holandês tem a mesma cultura de um italiano? Ou que um francês tem a mesma cultura que um grego? A resposta será sempre não. A Europa inteira cabe dentro do Brasil, sobra espaço e conseguimos ver as diferenças culturais de todos estes países.
Então qual o sentido de continuarmos insistindo que o carnaval é a festa popular brasileira? Que a cultura brasileira possa ser resumida no samba, mulheres de biquini e o bom papo carioca? Qual a razão da programação nacional de nossas emissoras de televisão se basearem somente nos dados de pesquisa de São Paulo? Como aumentar a relevância comercial de outras regiões se empurramos goela abaixo somente um tipo de cultura? E geograficamente, qual a razão de insistirmos que o Brasil é um país litorâneo e fazer folhetos de turismo somente com imagens de praias?
E a última e, talvez, mais assustadora constatação. A tão conturbada região, que vive em guerra e conflito, também cabe inteira dentro do território brasileiro: o Oriente Médio.
Claro, temos o diferencial de não termos disputas religiosas tão acirradas quanto as que existem lá, mas já constatamos que aqui morrem mais pessoas vitimas da violência do que nas guerras e conflitos de todo o Oriente Médio em um mesmo período.
Enfim, para você que está se perguntando qual a diferença entre os mapas do The True Size e os mapas que estudamos até hoje, é que os mapas são feitos em cima do sistema de projeção Mercator (clique aqui e aqui para entender melhor), que distorce as proporções territoriais dos continentes para que elas possam ser representadas em um mapa plano, aquele mesmo que utilizamos nas escolas, livros e internet.
Se você ainda não teve a oportunidade de sair pelo mundo e constatar pessoalmente o quão pequeno ele é, aproveite esse site e faça as suas comparações. Ele ajudará você a entender muitas colocações que as pessoas fazem diariamente e nos deixam sempre questionando o motivo de o Brasil ser diferente. Agora você terá um ponto de partida: o tamanho.
Nem sempre ser um “gigante pela própria natureza” é uma vantagem… Golias que o diga.