Oi. Calma ai, só um momento, estou tirando o pó do meu teclado.
Nossa, não acredito, estou escrevendo novamente. E não só isso, tem alguém me lendo.
Pois é, muito tempo se passou desde o último texto, lá em dezembro de 2015. Serão quase seis meses com o Somos Três parado.
Juro que tentei retomar isso aqui, mas foi difícil.
Nós achamos que é fácil retornar ao lar, mas não é. Ainda mais quando se trata de um retorno antecipado (já foi comentado em outras oportunidades o nosso retorno, dê uma pesquisada nos outros textos ou comentários não vou escrever novamente para não ficar repetitivo).
O fato é que estávamos preparados para ficar dois anos. Isso mesmo, dois longo anos. No fim, voltamos ainda no primeiro.
Estranho escrever isso. Admito que minha vontade é fechar o notebook e voltar a ver televisão.
A sensação que tenho, mesmo tendo passado seis meses, é de ter sido congelado por um ano e depois descongelado.
Retornar ao trabalho, rever os familiares, reencontrar os amigos, passar novamente por todos os lugares de uma rotina que você esperava não ver tão cedo.
O mais difícil é tentar se encaixar neste universo novamente.
No trabalho muitos colegas não estão mais lá. Pessoas novas foram contratadas e não fazem a menor ideia de quem você é. Por mais que mostre que você domina todos os assuntos e saiba todos os procedimentos, te olham com desconfiança.
Com os amigos os assuntos já não são mais os mesmos. Passou somente um ano, mas muita coisa aconteceu na vida deles, assim como aconteceu na sua. E simplesmente uns não fazem mais parte do universo dos outros. Você quer tomar cafés, mas eles ainda querem cervejas. Eles querem conversar sobre as vantagens da vida lá fora, você conta como ela é de verdade, mas eles não acreditam ou dão o assunto por encerrado.
Na família talvez o mais difícil, você sabe que ficou um ano fora, mas para eles, parece que esse um ano não existiu. Os familiares mais próximos te acompanharam o tempo todo via Skype, sabem dos detalhes, então não tem porque contar tudo novamente. Enquanto os familiares mais afastados não perguntam porque simplesmente não é o universo deles e não querem saber. E temos que concordar, todos possuem os seus problemas, sonhos e interesses…o mundo de hoje não tem espaço para o que não nos interessa.
Acho que isso é o mais complicado, saber que você tem um baú cheio de coisas para mostrar, contar, transmitir, ensinar e compartilhar, mas não tem ninguém querendo saber disso.
O que é estranho. Pois queria compartilhar ou reviver memórias com os conhecidos, mas quando toco no assunto de morar no exterior, sou visto como um esnobe. Enquanto todos os dias sou contactado por pessoas estranhas querendo saber das minhas experiências. Mas não as experiências de vida, mas as experiências para a vida.
O nosso canal do Youtube eu nem lembro mais quando foi a última vez que acessei. Acredito que tenha uma fila de comentários para responder. Mas não é porque não quero visitar, o motivo é que não quero me machucar. Não é bobagem, mas se escutar a música da nossa vinheta, todas as emoções voltarão a esse velho coração.
Hoje estou tomando a coragem novamente de voltar a escrever aqui. Superando um medo. Espero voltar em breve a postar os vídeos e compartilhar experiências de vida com os que dão valor a vida. Mas o medo de rever os vídeos gravados durante a edição ainda é grande.
Vejo que estou conseguindo me desintoxicar dessa experiência maravilhosa que foi morar fora.
A frase talvez seja brega, mas o mundo que me parecia enorme e complicado, hoje é minúsculo e tão simples quanto uma folha de papel em branco.
Queria poder traduzir o que se passa nessa cabeça cheia de vivências e conhecimentos. Acredito que a forma que mais se aproxima é a frase final do replicante Roy Batty, em Blade Runner:
“I’ve seen things you people wouldn’t believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I watched c-beams glitter in the dark near the Tannhäuser Gate. All those moments will be lost in time, like tears in rain. Time to die.”
Abaixo tem o vídeo com a tradução.
Mas não se assuste. Não é hora de morrer. Não literalmente. Somente no sentido figurado. É hora de enterrar esses medos e seguir. Vamos tocar o barco. Que venham mais textos e vídeos. Um grande abraço a todos que sempre nos acompanharam e continuam em contato pedindo o nosso retorno. Vocês são demais!